quinta-feira, 10 de abril de 2008

Peça Estação Leitura ao Conselho de Cultura

Parte da tiragem da revista, 3.750 exemplares, fica com o Conselho Estadual de Cultura. Essas revistas são distribuidas ao público lá mesmo no Palácio da Instrução, além de serem enviadas para bibliotecas e outros destinos. Caso alguma escola ou faculdade, de Cuiabá ou outros municípios solicitem, o Conselho costuma doar parte desse acervo. Tem que enviar um ofício pra eles fazendo a solicitação. Estive falando com a Laura, que trabalha próxima ao Conselho, e ela me contou que muitas pessoas fazem pedidos, que geralmente são atendidos... Só que nos ofícios não há telefone, endereço ou mesmo e-mail para contato. Aí não rola! Então, pra quem vai solicitar exemplares pra sua escola... Não esquecer de colocar endereço e telefone no ofício, pro Conselho fazer contato depois.

Alegria, alegria!

Por Wander Antunes

Voltei agorinha mesmo de Várzea Grande, da central de ISSQN, fui pagar impostos, algo que não me dá tesão, é óbvio, mas foi bom ter estado lá hoje – voltei contente, rindo a toa. Há exatos 10 dias deixei 500 exemplares de Estação Leitura por lá, a central de ISSQN é um dos pontos de distribuição da revista. Pois não é que todos eles já estão esgotados?! Sim, não sobrou unzinho no balcão pra contar a história. A alegria é ainda maior por não se tratar de uma distribuição ostensiva, o contribuinte não entra lá e alguém já vai colocando uma revista em suas mãos. É um negócio mais tranqüilo. A pessoa tem que apanhar sua Estação, tem que querer a revista – elas ficam expostas sobre o balcão, disponíveis, vizinhas à maquininha de senhas (na central de ISSQN de Cuiabá também é assim). Claro, não é uma alegria comparável a ganhar na Mega-Sena, mas que é bacana lá isso é. Ontem estive no Ganha Tempo, aqui mesmo em Cuiabá, e vi que as revistas estão a disposição do público. Deixei 2 mil exemplares por lá, no dia 31 do mês passado. Ainda há exemplares, mas a coordenadora, Andréia dos Reis, me disse que a revista está sendo lida. Onde mais? Sim, fui à Janina, loja do centro, e falei com o gerente, o Herlon. Estação está sendo distribuída por lá também, e na Adeptus. E ele ligou pra loja do Três Américas e foi informado que por lá mais de metade das revistas já foi distribuída. O que isso quer dizer? Que as pessoas querem ler. Que se não há um número maior de gente lendo é por falta de uma estratégia robusta de formação de novos leitores. Estação é só uma delas. Precisamos de outras mais, muitas outras.

sábado, 5 de abril de 2008

A alemãzinha de Havana

Por Aclyse de Mattos
Ilustração de Negreiros

Vê esse sujeito entrando no bar? Não. Não olhe agora que o cara é meio invocado. Espera eu te servir o coquetel, faz de conta que mexe o drinque, gira e repara. Sim, cara, ele mesmo. Papa Hemingway! Ernesto! Vem toda noite aqui encher a cara. Já escreveu a página, o conto, o romance, a reportagem, sei lá, e vem pra cá encher o tanque da cachola.
Diz que a Flórida faz os melhores drinques e faz uns discursos. Mal sabe ele que sou cearense. Sim. Do Crato. Lá da seca. A piada que contam é que tem sapo adulto que nunca viu água lá no Crato. Bicho anfíbio, né?!Bem, deve ter percebido pelo sotaque. Mas não se cansa de dizer na Flórida isso, na Flórida aquilo. É Flórida! Quando não fica contando que pegou o touro a unha na Espanha. Ou que detonou uns nazistas na guerra. Ou que comeu essa ou aquela gostosa do cinema ou do jet-set.
Sei lá, escritor mente muito. Vive de inventar. De tanto sonhar história acaba crendo. As vezes me chama e pergunta se agora ela vai ceder. Quem? Aquela alemãzinha de voz grossa do cinema... Isso, a Marlene Dietrich! Putz! Cada carta melosa. Nem parece o escritor fodão! Tenho até dó de dizer que ela não vai querer nada com ele. O cara tem ciúme dos homens que vão ao cinema pagando 10 cents para ver a cara e as pernas dela. Aí que ta! Dá pra acreditar? Não, né?! Nossa quem é que ta entrando no bar agora? ( ... ) ( !!!) A Lili Marlene! Ah. Sim. Marlene Dietrich. Assim contra a luz... Humm... Não sei não. Ta indo pra mesa dele. Vou lá levar uns amendoins pra conferir. Não. Pega mal. Dá na vista.
Mas o andar ta meio de rumbeira. O cabelo parece falso. Será que ele ta pagando uma gineteira cubana pra fingir da alemãzinha? Gineteira, porra. Não sabe o que é? Lá no Ceará é pistoleira, rameira, sei lá. Ah! Você é do Colorado. Mas e aí. Se acha que é uma gineteira de Havana mesmo? É. Também pode ser. É ela mesma que não quis ser reconhecida e se disfarçou de pistoleira que se finge passar de Lili Marlene Dietrich! Cara que fantasia. Elá ta bem de rumbeira! Verdadeira demais! Acho que ele pagou qualquer uma mesmo ...Não pode ser. Será? Cara. Quando eu contar essa lá no Crato... Putz! Mais uma, Colorado?

Cadeira de balanço

Por Luciene Carvalho
Ilustração de Airon


Na quaresma da vida pouca coisa lhe restara: a cadeira de balanço e as lembranças. As saídas do casarão da Barão de Melgaço só nos dias de consulta com o Dr. Benevides. As visitas da família são cada vez mais rápidas e espaçadas, ela já não lembra os nomes de todos e as caras vão se misturando umas as outras à medida que o tempo se acumula sobre os dias. Velha não tem compromisso marcado.
Dos 6 filhos, só 3 estão vivos, dos netos já perdeu as contas, por vezes tenta refazer o quebra-cabeças de fotografias que enfeita a parede da sala com sorrisos e sobrancelhas que lembram os seus. Bobagem. Hoje em dia ela não pode esquecer é o remédio para pressão alta, o resto já não tem tanta importância. Essa é a maior lição que o tempo lhe trouxe: a pouca importância dos problemas urgentes, não há nada que o tempo não encubra.
O tempo levou o pai, alto funcionário do Banco da Borracha; a mãe, carola que morreu tão silenciosamente quanto viveu; levou seus 9 irmãos, deixando-a sem ninguém pra dividir recordações do tempo antigo; levou o marido – capitão do exército – mas esse, o tempo já levou tarde, lhe deixando pensão e alívio.
Na solidão de mulher velha de memória falha, pouco lhe restara: só a cadeira de balanço, as lembranças e esse pequeno ir e vir entre a varanda e o quintal; a conversa com as árvores e os passarinhos o que faz quando bem entende; esses vestidos de cores alegres e decotes mais frescos que só pode ter após a viuvez.
É verdade que muito, muito da memória se perdeu, porém, dentre o que restou, é recorrente a lembrança de um certo Cabo Tomé que freqüentou-lhe a casa quando os 40 anos gritavam a urgência do corpo. O rosto dele lhe volta aos olhos com mais força cada vez que sua caçula – a rapa do tacho – vem lhe visitar. Na hora de abençoar a filha na despedida, chama-a de Tomezinha e não se importa quando escuta o que sussurram de viés, lhe chamando de caduca.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Um patriota

Por Wander Antunes
Ilustração de Weberson Santiago

Não dorme direito há dias. E se dorme, quase dorme, tem sono agitado e cheio de pesadelos, como esse de agora há pouco, repleto de rostos do passado, gente conhecida, gente morta, que lhe roubam o sono e a paz.
- Sou um patriota! Tudo o que eu fiz foi pelo Brasil... Tudo!! Então estou no meu direito, não estou?
Conclui que sim, se convence. Na verdade tenta se convencer, que sua vida tem sido isso mesmo, uma infindável e cotidiana tentativa de auto-convencimento. Levanta-se, a maldita vontade de urinar não lhe dá sossego. No banheiro, esperando pela rala e dolorosa urina, sem querer, pensa na idéia de patriotismo que evocara ainda há pouco em sua defesa e imediatamente vem-lhe à mente o famoso aforismo: O patriotismo é o último refúgio do canalha.
- Mas quem foi o cagão que disse essa merda?
Traiu sim, mandou velhos aliados para a morte. Entre eles a amante, grávida de um filho seu. Evidente, não é por isso que requereu para si a indenização dada pelo governo aos perseguidos pela ditadura militar – ferrou com essa gente por acreditar que eram inimigos do Brasil, por puro patriotismo. A indenização ele quer pelo que aconteceu antes, bem antes.- Então não tive que deixar a marinha? Podia ter feito carreira, chegado longe... Tido uma vida bem diferente. Tenho que ser indenizado sim, porra. Então até aquele escritor de merda, que nunca se fodeu nem nada, não tá levando a bolada dele todo mês? E olha que o puto nem se incomodou de furar a fila...
Urinou. Um quase nada, já sabendo que daqui a pouco vai bater vontade outra vez. E que vai urinar quase nada de novo.
- Devo estar bebendo pouca água...
Vai para a sala, deixa-se cair no velho sofá e liga a TV. De alguma forma o noticiário o faz sentir-se melhor, bem melhor.
“O brasileiro é patrimonialista e aceita com naturalidade que políticos se apropriem dos bens públicos”.
“A crise ética que abala as instituições está à espera de um posicionamento mais ativo e construtivo de cada um de nós.”
“Corruptos são reeleitos em todo o país.”
É sempre assim, basta se expor um pouquinho ao noticiário e imediatamente suas reivindicações lhe parecem ainda mais justas. Então não fora ele mesmo um perseguido pelo golpe de 64? Então não teve que fugir? Acabou se metendo na luta armada, foi para Cuba receber treinamento militar e quando voltou ao Brasil foi preso, assim que chegou. Para sua sorte, costuma dizer aos poucos amigos. Graças ao bom Fleury se arrependeu, converteu-se à boa causa e não pecou mais. Ou sempre esteve, desde o começo, com a turma do Fleury e tudo o mais é que fora uma farsa. É, pode até ser, agora nem mesmo ele sabe ao certo, tanto tempo tentando se convencer disso e daquilo, tentando reescrever a história de sua vida.
- Mudei de idéia, caralho! Então não tenho o direito? O que aquela gente queria não era bom para o Brasil. Esse negócio de comunismo... Nossa gente não é assim! Nos somos cristãos. Cristãos!!
E o aforismo lhe vem à cabeça outra vez, porque, de alguma forma que não consegue evitar, idéias como “nossa gente” e “nós somos cristãos”, também lhe parecem muito vizinhas àquelas de patriotismo. Argumentação de canalha, de patife?
- O patriotismo é o último refúgio do canalha!... Mas quem foi o filho da puta que falou essa merda?... Ah, quer saber?, e quem não é canalha nesse pais? Não... Não que eu seja, não que me ache um canalha... Fiz tudo pela pátria. Eu sou um patriota. Um patriota, ouviu Johnson?! – e foi assim que o nome do inglês, o tal cretino que botara patriotas e canalhas no mesmo saco, o nome que ele tanto tentara lembrar sem sucesso, lhe veio a mente, sem aviso e sem esforço, no meio de uma frase.
- Johnson! Dr. Johnson!!
Isso mesmo, filósofo do século XVIII ou algo assim.
- Inglesinho de merda!... Taí, esse não devia ser um patriota, não devia mesmo. Isso que ele disse foi pra confundir, que é tática de subversivo esse negócio de falar mal da pátria, da família... Essa gente não tem princípios...
Dá um foda-se a Johnson e aos milhões de brasileiros que certamente irão acusá-lo de não ter direito moral a nenhuma indenização.
- E alguém nesse país tem direito moral a alguma coisa?
Está bem, nem mesmo a interminável vontade de urinar o incomoda agora. Sente-se em paz. E ri, já se vê indo ao banco todos os meses para receber a sua indenização de perseguido político.
- Então não tenho direito legal? Tenho sim, tenho sim, porra.
Relaxa e se deixa banhar, com imenso prazer, no mar de lama patrocinado pelo judiciário, pelo congresso, pelo senado, pelo executivo, pela brava gente brasileira, que a apresentadora gostosa do telejornal vai desfilando com visível prazer, um após o outro. E outro. E outro. E outro...

Olha ela aí

Uma nova edição de Estação Leitura já está disponível, a de número 9. Nesta edição de retorno, o eterno retorno!, contos de Luciene Carvalho, Aclyse de Mattos, Marinaldo Custódio e Wander Antunes. O poeta convidado é Antônio Carlos F. Lima - o espaço para poesia deve ser ampliado a partir da próxima edição. Nos quadrinhos, uma aventura inédita do detetive Zózimo Barbosa.
Onde encontrar - A revista, publicada com o apoio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, está disponível nas livrarias Janina e Adeptus, nas centrais de ISSQN, de Cuiabá e Várzea Grande, e no Ganha Tempo de Cuiabá, no centro da cidade. É só ir a qualquer um desses endereços e pedir seu exemplar, a distribuição é gratuita.